Antidepressivos que vão além da depressão

Antidepressivos que vão além da depressão

Começo com um Bom Ano Novo, com a esperança de que 2022 seja um ótimo ano!
 
Feitas as saudações, avancemos. No último texto introduzimos a electroconvulsivoterapia (ECT), com a promessa de explicar o seu funcionamento. Não esquecendo o prometido, e sem querer abusar da paciência do leitor, peço que aguardemos mais um pouco. Entretanto, gostaria de falar sobre uma das classes de fármacos mais utilizadas pelos psiquiatras: os antidepressivos. Por serem muito utilizados e pelos pacientes terem sempre várias dúvidas, penso ser um tema pertinente.
 
Os antidepressivos incluem uma vasta variedade de fármacos que partilham algumas propriedades químicas e que actuam pelos mesmos princípios gerais. Em termos muito simples, os antidepressivos equilibram os níveis de alguns neurotransmissores cerebrais que se sabem estar envolvidos na depressão. Dos vários neurotransmissores destacam-se a noradrenalina e a serotonina, que até já foi chamada, com algum exagero, a “molécula da felicidade”. Falando da serotonina, na depressão os níveis desse neurotransmissor encontram-se reduzidos em algumas regiões cerebrais. Os antidepressivos permitem aumentar a disponibilidade de serotonina e, assim, restaurar níveis de “vitalidade” e, eventualmente, tratar a depressão.
 
“Ora, não tenho uma depressão, apenas ansiedade. Porque é que o meu médico me receitou antidepressivos em vez de calmantes?”. Esta é uma questão pertinente. De forma muito simples, pode dizer-se que a ansiedade anda de mãos dadas com a depressão, isto é, embora possam ter apresentações distintas, ambas as doenças partilham mecanismos patológicos em comum. De facto, ansiedade prolongada pode levar ao desenvolvimento de uma depressão. Ora, sendo os mecanismos da doença comuns, a medicação que actua nesses mecanismos acaba por ser a mesma. Na verdade, os antidepressivos são a medicação mais eficaz para tratar a ansiedade – muitas vezes são até mais eficazes na ansiedade do que na depressão!
 
Existem outras situações em que os médicos utilizam antidepressivos sem que a pessoa tenha uma depressão (ou esteja ansiosa). Pense-se na insónia, por exemplo. Alguns antidepressivos, como é o caso da trazodona, têm uma actividade antidepressiva humilde, mas têm como efeito secundário desejável o sono, isto é, têm acção hipnótica. Bem utilizados, estes antidepressivos podem ser uma alternativa interessante para dar à pessoa um sono reparador e tranquilo, sem os efeitos de dependência e tolerância associados a outros medicamentos como, por exemplo, as benzodiazepinas (como exemplo ilustrativo, o alprazolam, o famoso Xanax, é uma benzodiazepina).
 
Os antidepressivos são dos fármacos mais seguros disponíveis e actuam num conjunto de situações muito variadas. Caso surja a oportunidade, poderemos voltar a eles num texto futuro. Até lá…
 
…um Feliz 2022!


Artigo elaborado por:
Daniel R. Machado
Interno de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Leiria
 
(Rubrica “Falemos de Saúde Mental”, publicada mensalmente no Diário de Leiria)

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