Profissionais devem ser vigilantes para prevenir carências nutricionais de dietas restritivas

Opções alimentares dos pais devem ter em conta as necessidades nutricionais na infância

As opções alimentares estiveram em destaque na primeira manhã das XXIII Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha, realizadas nos dias 15 e 16 de dezembro no Hospital de Santo André, unidade de Leiria do Centro Hospitalar de Leiria. «Nas crianças em que os pais tenham uma alimentação restritiva, seja vegetariana, sem glúten, vegan – regime alimentar que exclui alimentos de origem animal e qualquer derivado destes –, é necessário que os profissionais estejam atentos para detetar e prevenir carências nutricionais, que são quase sempre inevitáveis» considerou Nuno Borges, nutricionista, destacando que certas carências têm mesmo implicações no desenvolvimento das crianças. 
 
«Ainda que, por exemplo, a alimentação vegetariana tenha aspetos indiscutivelmente positivos, já que permite aumentar a ingestão de hortícolas, pode por vezes aumentar a ingestão de alimentos que são vistos como alternativa aos “normais”, mas que são ricos em açúcar, nomeadamente as bebidas “substitutas” do leite da vaca», observou ainda o nutricionista, indicando que o essencial é ensinar os pais a ler rótulos.
 
As carências em vitaminas e oligoelementos são um dos aspetos negativos das dietas restritivas, sejam elas induzidas por questões éticas ou ideológicas, seja por influência das “modas”, que quando introduzidas na infância têm de ser acauteladas, nomeadamente com suplementação. «Por vezes surgem questões muito difíceis de solucionar com os pais, que se forem por exemplo vegans, geralmente associada a um estilo de vida ético para com os animais, etc., como os convenço a dar um suplemento à criança à base de óleos de peixe?», Nuno Borges.
 
Estas e outras questões estiveram em discussão no primeiro dia das Jornadas de Pediatria, focadas este ano na nutrição em idade pediátrica, no sentido de «cumprir o artigo 24.º da Convenção dos Direitos da Crianças: a criança tem direito a gozar o mais alto padrão de saúde possível», e estas jornadas são mais um contributo para dotar os profissionais de saúde dos conhecimentos necessários a atingir esse objetivo, destacou Bilhota Xavier, diretor do Serviço de Pediatria do CHL, organizador das Jornadas.
 
Luísa Preto, diretora do Serviço de Pediatria do Hospital das Caldas da Rainha, destacou que «uma alimentação cuidada na infância é essencial para uma vida saudável no futuro, pelo que a aprendizagem de bons comportamentos alimentares é essencial. Como devemos comer? Como devemos ensinar a comer? Ajudar uma família a ter uma alimentação saudável é a base fundamental».
 
Bilhota Xavier debruçou-se sobre alguns dados preocupantes: um terço das crianças entre os 12 e os 24 meses de idade têm já excesso de peso ou obesidade. Mais grave quase 70% das crianças obesas permanecerão obesas na idade adulta, atestou. «As doenças cardiovasculares e a diabetes do adulto iniciam-se na infância», assegurou. «O crescimento das doenças crónicas ligado a estas patologias continua a aumentar, afetando já mais de um terço da população europeia. A nível global, estima-se que 60% das mortes prematuras sejam provocadas por estas doenças».
 
Mostrando que a alimentação saudável em idade escolar é uma das preocupações do município, Gonçalo Lopes, vice-presidente da Câmara Municipal de Leiria, partilhou com os profissionais de saúde o projeto “Super Heróis da Alimentação Saudável” de sensibilização para uma alimentação saudável, em vigor nas escolas do ensino básico. «O trabalho começa com os mais novos e é por isso uma prioridade para todos nós», vincou.
 
O diretor do Serviço de Pediatria do CHL destacou ainda outras áreas, dentro da nutrição, que merecerão destaque no decorrer das Jornadas: a nutrição e suplementação em adolescentes que praticam desporto, muitas vezes «confundidos pela profusão de informação de má qualidade, produtos aconselhados apenas a coberto de interesses comerciais, com evidentes riscos a longo prazo». A desnutrição em crianças e adolescentes com patologia relacionadas com o desenvolvimento psicomotor ou com problemas do comportamento alimentar, estarão também em discussão, assim como as alergias alimentares.
 
«Sabemos que a prevenção é o melhor tratamento, pelo que a alimentação saudável merece particular atenção. Mas não nos podemos esquecer de promover o brincar em ambientes amigos da natureza, além da prática do desporto, a bem das crianças e pelo seu papel na evolução da sociedade», rematou Bilhota Xavier.
 
As XXIII Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha decorreram nos dias 15 e 16 de dezembro, no Hospital de Santo André, unidade do Centro Hospitalar de Leiria.

Leiria, 20 de dezembro de 2016.