«Os projetos que queremos desenvolver no Centro de Investigação são o futuro da medicina»

Centro de Investigação do CHL e CDRsp/IPLeiria querem fazer medicina personalizada

«Os projetos que queremos desenvolver no Centro de Investigação respondem ao futuro da medicina, medicina personalizada», afirmou João Morais, coordenador do Centro de Investigação do Centro Hospitalar de Leiria (CI/CHL), no segundo encontro do Ciclo de Conferências do CI/CHL, que contou com a participação do engenheiro Artur Mateus, investigador do Centro para o Desenvolvimento Rápido e Sustentado do Produto do Politécnico de Leiria (CDRsp/IPLeiria), para falar da investigação biomédica, e do seu caminho do laboratório até ao paciente, que se pretende encurtar com o trabalho conjunto entre as duas entidades.

«Cada vez mais se impõe a medicina personalizada, não podemos ter uma prótese standardizada, não serve o doente, não funciona. Este é o grande desafio para o mundo moderno e a investigação caminha para aí», continuou o responsável pelo CI/CHL. Artur Mateus apresentou os projetos em que o CI/CHL e o CDRsp/IPLeiria estão a candidatar-se a financiamento, que se focam no fabrico direto digital [conhecido comummente como impressão 3D] aplicado à produção personalizada de materiais médicos, que poderão ser impressos no hospital diretamente pelos profissionais de saúde para um doente específico, e à engenharia de tecidos (impressão de e em órgãos, para restaurar tecidos) costumizada. O investigador deu ainda a conhecer outras áreas em que o CDRsp/IPLeiria pode colaborar com os profissionais de saúde do CHL, no sentido de encurtar o percurso da investigação biomédica do laboratório ao paciente.

Artur Mateus mostrou as novas realidades da investigação em curso: costumização/personalização de material médico e tecidos, baixo custo de produção destes materiais, e acessibilidade aos profissionais de saúde de novas tecnologias nomeadamente no que toca à digitalização e impressão 3D, que lhes permitam produzir in situ aquilo que os seus doentes precisam. João Morais destacou o trabalho do CDRsp, «com um desempenho notável, criando tecnologia de ponta, que lhe tem granjeado reconhecimento internacional», evidenciando ainda a pertinência de ter «um não médico a dar uma perspetiva completamente diferente da saúde». «A atividade e o desenvolvimento médico precisa cada vez mais de perspetivas de não clínicos, para que se faça mais medicina de qualidade, e que se dê lugar ao desenvolvimento na área médica».

Lembrando que a missão do CI é incentivar a investigação no CHL, para melhorar a qualidade do serviço prestado ao doente, João Morais constatou que em Leiria o saldo de investigação é muito positivo, mas há asque tenha aplicação na prática, com benefícios para o utente».

Artur Mateus fez uma revisão dos projetos de engenharia do CDRsp com aplicações na área médica – impressão 3D para planeamento cirúrgico, sistemas de acondicionamento de linhas de infusão para combater infeções hospitalares, realidade aumentada, entre outros -, e deixou a porta aberta para que os profissionais de saúde «batam à porta do CDRsp para que possamos criar tecnologia à medida do que precisam». Embora já mais banalizado, o fabrico direto digital ou fabrico aditivo (impressão 3D) tem inúmeras aplicações na área médica, seja em dispositivos de suporte, seja em engenharia de tecidos.

O investigador explicou que o CDRs/IPLeiria foi pioneiro nacionalmente na prototipagem rápida, assumindo uma posição diferenciadora para responder às necessidades dos profissionais de saúde, porque cria e constrói de raiz as máquinas, adequando-as ao pormenor ao fim que se destinam. «A ciência e os recursos existem, só temos de os explorar», considera Artur Mateus. «Ainda estamos numa fase muito inicial do fabrico direto digital. Estamos a usar máquinas com um potencial enorme para coisas básicas. Temos de explorar ao máximo as potencialidades do fabrico direto digital, e podemos falar sem dúvida da impressão de implantes biomédicos com tecidos reabsorvíveis, biocompatível e biodegradável, mas temos de adequar os equipamentos que já existem para serem usados nos hospitais, pelos profissionais, pelos não engenheiros. Mas falta-nos o input dos profissionais de saúde. Por isso estamos aqui para dar o salto, e encontrar uma convergência entre a linguagem das máquinas e de quem as pode vir a utilizar, para podermos adaptar software e hardware à realidade médica» A sessão seguiu num tom de desmistificação: a impressão dos ou nos órgãos é uma realidade não tao distante, assegurou o investigador, a expectativa é que ocorra a breve prazo.

Colaborar para democratizar o acesso a equipamentos médicos

Artur Mateus focou ainda outra questão relativamente à impressão direta digital aplicada à área médica «além de ser mais barata, personalizável e um processo pouco complexo – assim que encontremos uma convergência entre o que vocês precisam e aquilo que temos ou podemos inventar –, podemos entrar cada vez mais na democratização e no acesso pelo doente a coisas que até aqui são dispendiosas – próteses, cadeiras de rodas, e outros equipamentos mais personalizados estarão não só mais adequados ao seu utilizador e também mais acessíveis em termos de custo».

João Morais deixou o desafio aos profissionais para procurarem o CDRsp/IPLeiria: «citando Manuel Sobrinho Simões a ciência não se faz só na produção de papers, faz-se na obtenção de patentes. Responder melhor aos utentes, aos desafios da medicina do futuro é possível, e é cada vez mais normal fazer medicina personalizável, não standardizada, a solução para um doente, é diferente da solução para outro doente, com ganhos efetivos no seu bem-estar». «É possível, só falta trabalharmos em conjunto», atestou o responsável pelo Centro de Investigação do Centro Hospitalar de Leiria.

O CI/CHL e o CDRsp/IPLeiria integram um consórcio de entidades candidato a financiamento para investigação ligada ao fabrico direto digital aplicado à produção personalizada de ortóteses e a engenharia de tecidos, a aplicar in situ.

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Leiria, 23 de abril de 2016