«O desafio é manter, em tempos de crise, uma medicina de altíssima qualidade»

Alertou o Monsenhor Vítor Feytor Pinto nas jornadas anuais do CHLP
 
«O desafio é manter, em tempos de crise, uma medicina de altíssima qualidade», alertou hoje o Monsenhor Vítor Feytor Pinto nas jornadas anuais do Centro Hospitalar Leiria-Pombal, num painel multidisciplinar dedicado à “Medicina em tempos de crise”, que partilhou com Adalberto Campos Fernandes, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, Pedro Pita Barros, economista e professor da Universidade Nova, e Helder Roque, presidente do Conselho de Administração da instituição.

O painel, que pretendia, como apresentou Helder Roque, «analisar os vários aspetos da influência da crise na qualidade e acessibilidade aos cuidados de Saúde por parte dos utentes, por um lado e, por outro, na própria vivência dos profissionais» que têm a difícil missão de, na ótica de Pedro Pita Barros, «pensar de outra forma aquilo que fazem todos os dias, equilibrando da melhor forma os resultados assistências e os objetivos, com os resultados e as restrições financeiros».

«No atual contexto», defendeu o economista, «há que olhar para a Saúde de outra forma, mesmo para o tipo de patologias que agora tendem a ser mais comuns, e a atingir mais pessoas, por causa precisamente das grandes dificuldades económicas e sociais que atravessam, como é o caso da saúde mental». «Tomando como exemplo uma pessoa que tem a sua família e se vê desempregada, sem forma de sobreviver e de sustentar os seus filhos; esta situação, além de ser um grave problema económico e social, não pode também deixar de ser analisado no âmbito da saúde mental».

A gestão do orçamento enquanto instrumento de gestão foi também abordada por Pedro Pita Barros, que considera que deverá ser credível, porque exequível, e deverá responsabilizar quem o aplica. Este, aliado à priorização de investimentos de acordo com as reais necessidades dos utentes e à reorganização das instituições, que implica o correto encaminhamento dos utentes para os serviços, tendo como base os cuidados primários, deverão ser as “ferramentas” para uma mudança na Saúde que se pretende definitiva.

A rede de serviços e o correto encaminhamento dos utentes foi também um ponto em destaque na intervenção de Adalberto Campos Fernandes, que colocou os cuidados de Saúde primários como «driver primário do sistema», assim como os cuidados centrados no doente, fazendo corresponder as expetativas dos cidadãos às expetativas dos profissionais para a definição do que é «uma boa unidade de Saúde».

O professor da Escola Nacional de Saúde Pública, e anterior administrador do Hospital de Santa Maria, avançou com algumas medidas para a sustentabilidade do sistema de Saúde, colocando a tónica na «“desospitalização” do sistema», nas redes sustentáveis de prestação de cuidados, no nivelamento pelas melhores práticas, na aplicação e promoção de políticas de qualidade, com especial relevo para o processo de certificação pela Joint Commission Internacional, em curso no CHLP, no investimento no ensino, formação e investigação e na promoção do trabalho em rede, entre outras.

O Monsenhor Feytor Pinto manteve e sublinhou a tónica da Saúde centrada no doente, referindo que a medicina deveria ser «em primeiro lugar, fiel à pessoa; depois fiel também à eficiência e gestão racional dos recursos, e fiel à ciência e investigação». «Se por um lado os profissionais têm que se manter fiéis à medicina, é essencial terem a consciência da crise, do atual contexto e das restrições que lhe estão associadas», ressalva.

«Quando falamos de crise não podemos falar apenas em crise económica, mas de crise de valores, das relações humanas», afirma o Padre Feytor Pinto, «e por isso é essencial colocar a verdade acima de tudo, a sensibilidade da ética, a humanização e a “igualitarização”, respeitado o ser humano e tratando todas as pessoas de forma igual, a espiritualidade marcada pela dimensão curativa e terapêutica». «É possível construir uma Saúde que faz felizes as pessoas, dando esperança às pessoas e fazendo com que as pessoas encontrem nas instituições de Saúde a resposta a esse seu sentimento», sublinhou o Monsenhor Feytor Pinto no final da sua intervenção.

As Jornadas de 2012 do Centro Hospitalar Leiria-Pombal (CHLP), continuam amanhã, sexta-feira, 11 de maio, com o mote o “Projeto – Comunidade – Caminho”, reunindo inúmeros especialistas de diversas áreas da Saúde e de outros setores fundamentais.

Para amanhã estão reservados os debates “EnvelheSer”, sobre envelhecimento ativo e tendências demográficas, e “Protocolos terapêuticos: conceitos atuais”, abordando o “Olho Vermelho” (de que são exemplos as conjuntivites, glaucomas, em estados mais graves, etc.), o tratamento para a hipertensão na Urgência, as cefaleias e a insuficiência renal aguda.

Leiria, 10 de maio de 2012