«É possível envelhecer e manter-se ativo e capaz»

Defendeu Marta Gôja nas Jornadas do Centro Hospitalar Leiria-Pombal
 
«É possível envelhecer e manter-se ativo e capaz», defendeu hoje Marta Gôja, uma das mentoras do projeto MAIOR, nas Jornadas do Centro Hospitalar Leiria-Pombal (CHLP). Marta Gojâ, interna de formação específica de Medicina Interna no CHLP falava no painel dedicado ao “EnvelheSer”, numa manhã que debateu, de uma forma global e integrada, os ganhos e novos desafios desta nova etapa da vida, o envelhecimento ativo e com qualidade e as oportunidades que a nova demografia, com uma pirâmide tendencialmente invertida, apresenta aos países ocidentais.

Irene Reis, enfermeira especialista do serviço de Consulta Externa do CHLP, sustentou que para que o envelhecimento ativo e saudável seja de facto uma realidade «temos de estar mais próximos do cidadão, de eliminar barreiras na nossa casa e comunidade». Explicou ainda qual atitude a tomar nesta nova etapa: «tem de haver uma aceitação, logo aí temos uma atitude diferente para com a vida; além disso devemos promover o diálogo intergeracional, interagir com outras gerações, temos também de continuar a cuidar e apostar em nós, a trabalhar ou a estudar, tudo isso nos dá uma sensação de utilidade que é muito importante. No fundo importa continuar a ser um cidadão ativo, para que o envelhecimento seja um marco importante e com qualidade».

Quanto à comunidade, «temos de repensar os valores pelos quais nos regemos, que conduzem a nossa vida, enquanto cidadãos e enquanto sociedade, não podemos excluir ninguém», afirmou Irene Reis. Também nesta linha de pensamento, João Coucelo, diretor clínico do CHLP criticou a forma como a sociedade em geral, e até mesmo os meios de comunicação social, encaram o envelhecimento, e que dizem por exemplo «um idoso de 60 anos», em vez de homem - que na maioria da vezes é uma pessoa ativa na sociedade e perfeitamente independente -, defendendo por isso uma sensibilização da população para estas questões.

Mostrando algumas formas de promover um envelhecimento ativo na população que o Hospital serve, Marta Gôja apresentou o projeto MAIOR, nascido no CHLP e que em janeiro passado venceu a Missão Sorriso, que pretende promover, através de diversas ações, uma melhoria da qualidade de vida dos seniores da área de influência do Centro Hospitalar. «O MAIOR foca-se em cinco áreas: movimento, autonomia, independência, oportunidade e recuperação, e nasceu porque cada vez mais a população é maioritariamente idosa, e tem gradualmente vindo a ter menor apoio familiar, e porque por vezes sentimos um défice de formação e informação nos cuidadores (família e amigos) e nos profissionais de saúde».

O projeto MAIOR incluirá além de um ”cantinho do idoso”, um banco de ajudas técnicas, que permitirá emprestar material de apoio, e diversas aulas e workshops para seniores, cuidadores e profissionais de saúde, para que «a qualidade, a independência e o gosto pela vida garantam um envelhecimento saudável e o pleno usufruto desta nova etapa».

Cristina Louro, vice-presidente da Sociedade Nacional da Cruz Vermelha Portuguesa, preconizou o trabalho em rede, entre os diversos prestadores de cuidados de saúde, «para melhor aproveitar os recursos uns dos outros e promover um envelhecimento participativo». José Paulo Esperança, pró-reitor do ISCTE, defendeu que «devemos ver esta nova demografia, com as pessoas a viver mais tempo e com mais saúde, como uma oportunidade», e apresentou algumas atividades que beneficiam desta tendência demográfica, como o turismo, os negócios ligados à habitação (com oferta e valências específicas para servir a população sénior), o acompanhamento, o desporto, a alimentação saudável e o turismo de saúde.

João Paulo Esperança destacou ainda a oportunidade que se afigura a Portugal, na questão do turismo de saúde, uma vez que o País se encontra em 12.º lugar no ranking dos sistemas de saúde a nível mundial da Organização Mundial de Saúde, estando por exemplo o Reino Unido em 18.º e os Estados Unidos da América em 37.ª posição. Segundo esta organização, Portugal dispõe de 150 hospitais, 28 mil camas, 600 mil cirurgias por ano e 78 mil médicos e enfermeiros. Também Cristina Louro defende esta via, defendendo que os países do sul dispõem de potencialidades interessantíssimas a este nível, que podem atrair os “utentes” dos países do norte.

«Temos de entender o turismo de saúde como uma área de negócio, temos de criar uma política comercial ativa e de vender a imagem e a oferta portuguesa», esclareceu ainda João Paulo Esperança.

Helena do Vale, assistente hospitalar de Medicina Interna no CHLP, demonstrou o sucesso das políticas de prevenção e de sensibilização do Hospital de Santo André, por exemplo relacionadas com as quedas na idade sénior, com os números dos internamentos a reduzir de ano a ano. Jacinto Loureiro, diretor do serviço de Ortopedia II, defendeu que neste serviço a traumatologia (especialmente rodoviária e industrial) decresceu 70 a 80%, e que no que se relaciona com traumatologia associada às patologias degenerativas, «estamos ao nível dos países do norte da Europa».

A tendência demográfica portuguesa foi evidenciada por Bilhota Xavier, diretor do serviço de Pediatria do CHLP, que referiu o decrescimento da taxa de natalidade: «nos últimos 20 anos perdemos 500 mil crianças até aos 18 anos». Este especialista defendeu que «o envelhecimento ativo começa com as crianças, com a educação que lhes damos e como as tratamos. É normal ver os profissionais de saúde a falar, no caso das crianças, com os pais, e no caso dos seniores, com os filhos, como se as pessoas em causa não devessem também saber da sua saúde».

Manuela Feliciano, enfermeira no serviço de Psiquiatria do CHLP, defendeu que os profissionais de saúde «devem ter um papel elucidativo e educativo» porque ao contrário do que se passava antes, agora «as famílias destituem-se muitas vezes do seu papel para com os utentes idosos e outros». Esta especialista congratulou ainda o projeto MAIOR porque é muito importante concretizar e sensibilizar uma vez que «a idade não é cronológica, está na nossa cabeça».

As Jornadas de 2012 do Centro Hospitalar Leiria-Pombal decorreram ontem e hoje, dias 10 e 11 de maio, com o mote o “Projeto – Comunidade – Caminho”, reunindo inúmeros especialistas de diversas áreas da Saúde e de outros setores fundamentais.

Leiria, 11 de maio de 2012