Precisará a violência de saúde?

“A saúde é mais que a ausência de doença“, e quem o diz é a Organização Mundial de Saúde. Esta é uma das frases que mais se ouvem quando falamos de saúde, principalmente de saúde (ou doença) mental. E o que é a ausência de doença? Como se define? Será o bem-estar físico e psicológico, o equilíbrio, a espiritualidade, a estabilidade emocional? Também o será, certamente, mas ainda assim, será também um conjunto de muitas outras coisas.
 
Quando falamos de violência, maus tratos, sejam estes físicos, psicológicos, sexuais, sociais, económicos, negligência, abandono…e independentemente da sua tipologia, familiar, conjugal, no namoro, ex-relações, estamos a falar de doença? E se sim, doença para quem, vítima, pessoa agressora, espectadores ativos, espectadores passivos?
 
No dia 25 de novembro comemora-se o Dia Internacional pela Eliminação de todas as formas de violência contra as mulheres, uma data que, ironicamente e como a maioria das comemorações, surge após a morte de três ativistas de direitos, direitos humanos, direitos das mulheres. A comemoração trata isso mesmo, a necessidade de valorizar direitos, direito à vida e ao bem-estar, à saúde, no caso, saúde das mulheres que, não sendo as únicas vítimas, ocupam o topo das estatísticas na vitimização nas relações de intimidade. É também neste dia que se procura sensibilizar (ainda mais que nos outros dias) para as questões da violência doméstica, o flagelo que, em opinião, dos mais limitantes é na vida humana - impacta naquilo que deveria ser a nossa base, o espaço seguro e confortante onde somos aceites, sem limitações e não onde somos agredidos e mutilados emocionalmente.
 
E a saúde, que papel tem na violência? O papel igual a todas as outras áreas, contudo reforçado pela fragilidade de quem procura assistência clínica, pelo espaço seguro que os serviços podem ser e pelo acesso a respostas adequadas que, muitas vezes, não se conhecem de outra forma.
 
Não é papel da saúde julgar violência, mas é seu papel preveni-la e identificá-la, encaminhando-a para os locais certos. É obrigação reforçada dos profissionais de saúde denunciar casos de suspeita de violência, um crime público, que nos envergonha e deve ser minimizado ao máximo.
 
O impacto da violência na saúde é enorme. Custos físicos, económicos, sociais e emocionais. Mais, custos humanos, vidas que se destroem, e não são apenas aquelas que deixam de existir.
 
A violência é um problema da saúde mental? Mais, é um problema de saúde, em qualquer das suas dimensões.
 
A violência precisa de saúde, e a saúde deverá contribuir para acabar com a violência.


Artigo elaborado por:
Joana Correia, pela EPVA (Equipa de Prevenção da Violência no Adulto) do Centro Hospitalar de Leiria
(escrito no âmbito do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres)