O espírito ao frio

Foi-se o mês de Agosto – praia, mar, férias, churrascos, festas, descanso… Para o ano há mais!, suspira-se…
 
Eis que chega Setembro, já esfriado e com promessas de Outono. Para muitos esta é uma estação melancólica: o cair dourado das folhas, os dias menos luminosos e mais curtos, o frio que vai apertando até à chegada sisuda do Inverno. Essa melancolia outonal deve-se a algumas adaptações biológicas que importa conhecer. 
 
O nosso organismo, por mecanismos neuronais e hormonais bem evoluídos (e que partilhamos com outros animais), prepara-se para as estações frias. Sente-as chegar sobretudo através da descida das temperaturas, da redução da intensidade da luz solar e da mudança das horas do crepúsculo (mais cedo) e da aurora (mais tardia). Estruturas cerebrais muito antigas do ponto de vista evolutivo detetam essas variações e desencadeiam um conjunto de adaptações metabólicas, hormonais e comportamentais que permitem uma melhor “acomodação” às alterações invernais. Uma curiosidade: os mecanismos de que falamos são, grosso modo, os mesmos que regulam o nosso ciclo diário de sono e vigília; a diferença é que, falando nas estações do ano, o ciclo não é diário, mas sim sazonal.
 
De que alterações falamos? Entre outras, a tendência para uma redução do metabolismo, o sentir mais sonolência durante mais tempo (não, não é só pelo quentinho da cama), a  sensação de se ter menos energia e agilidade e, em contraponto, a sensação de se ficar fatigado mais depressa.
 
Ocorrem outras alterações, nomeadamente ao nível do humor – o leitor tem razão, já me demorava em falar de Saúde Mental! De facto, para muitos, o aproximar das estações frias representa a chegada de algo bem mais difícil de suportar do que o frio, a chuva ou uma simples sensação de melancolia: representa o abatimento glacial de uma depressão (sazonal, diriam os psiquiatras). Não é raro que surjam, com intensidade preocupante, os sintomas típicos da depressão: tristeza (melancolia), anedonia (já falamos dela: é a incapacidade para sentir prazer com coisas que habitualmente nos deixam satisfeitos), abulia (falta de energia anímica e vontade para as tarefas) e um terrível, permanente e pesado cansaço, como se toda a neve do Inverno se tivesse abatido sobre nós.
 
Embora tenha tendência a melhorar com a vinda  do tempo quente – Primavera e Verão, que ainda não acabou, mas já deixa saudades… – este problema não deve passar sem atenção médica: há tratamentos e medidas eficazes e acessíveis que podem ajudar (e muito!) a ultrapassar aqueles que são, para muitos de nós, os meses mais difíceis do ano.
 
E tal como as estações, volto, no final deste texto, ao final de um outro, lá do início da rubrica: «Triste ou deprimido?» Lembra-se?
 
Não? Não faz mal. Terminava assim: para que a esperança não se vá no mar triste da depressão, peça ajuda e procure o seu médico. Continua a ser verdade…
 
Vemo-nos em Outubro!