Afinal, o que é a Psiquiatria?

Falemos de Saúde Mental: Afinal, o que é a Psiquiatria?


 Nesta rubrica, a publicar mensalmente, tentaremos esclarecer várias questões, preconceitos e mitos sobre a Saúde Mental. Enquanto profissionais de saúde dedicados às doenças da mente preocupamo-nos com as consequências que a pandemia da Covid-19 pode vir a ter na saúde mental da população. Porém, sabemos que pessoas mais informadas são também mais saudáveis, porque conseguem identificar e perceber melhor o que se passa com elas e, muito importante, sabem pedir ajuda quando dela precisam. Assim, esperamos com esta rubrica promover a saúde mental de todos.

Comecemos por uma ideia fundamental: a doença mental existe e pode ter consequências muito graves, desde incapacidade no dia-a-dia ao suicídio. Muitos órgãos do corpo causam doenças graves quando adoecem e o cérebro não é diferente. Pensemos numa doença crónica grave que todos conhecem: a diabetes. É próprio do pâncreas produzir insulina; quando o pâncreas adoece e deixa de o fazer, desenvolve-se a diabetes. O mesmo raciocínio se aplica ao cérebro: é próprio do cérebro produzir pensamentos e emoções. Quando o cérebro adoece, isso afecta esses pensamentos e emoções e desenvolve-se uma doença mental.

Esclarecidos de que a doença mental resulta de um cérebro adoentado, interessa saber como se pode tratar e é aqui que entra a Psiquiatria. Esta é a especialidade da Medicina que se dedica ao estudo, diagnóstico e tratamento das doenças mentais. É uma área muito vasta e complexa em que os médicos psiquiatras se especializam em ouvir, orientar e tratar pessoas que possam sofrer de uma doença mental – um problema de saúde que pode atingir qualquer um, sem exceções.

Há muitas ideias erradas sobre as consultas de Psiquiatria. Muitos imaginam que se irão deitar num divã a falar dos seus problemas enquanto um psiquiatra austero toma notas e acena com um “hu-hum” compreensivo; outros pensam que o psiquiatra irá receitar medicação que faz “andar como um zombie”; enquanto outros ainda receiam serem internados contra a sua vontade. Há até quem tema que o psiquiatra faça tudo isto! Estas ideias são globalmente incorretas e teremos oportunidade de esclarecer. Para já importa dizer que uma consulta de Psiquiatria assenta sobretudo numa conversa franca e aberta, sem julgamentos e em que psiquiatra e doente participam de forma ativa. O centro da Psiquiatria são as pessoas e, como tal, no centro das consultas de Psiquiatria está o diálogo – um diálogo construtivo e que requer muita técnica e ciência mas, ainda assim, um diálogo. Assim, não há que recear ou ter vergonha em ir ao psiquiatra: irá encontrar um médico que o irá ouvir, dialogar e ajudá-lo dentro do que a “medicina mental” pode oferecer.

Em rubricas futuras vamos abordar assuntos da Saúde Mental que causam sempre muitas dúvidas: qual a diferença entre Psiquiatria e Psicologia; como funciona a medicação psiquiátrica; o que é a depressão e a doença bipolar e muito, muito mais. Até lá, fiquemos atentos e… falemos de Saúde Mental.


Artigo elaborado por:
Daniel R. Machado
Interno de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Leiria

(Rubrica “Falemos de Saúde Mental”, publicada mensalmente no Diário de Leiria)