CHL e Politécnico de Leiria estudam efeitos do exercício físico em hipertensos e/ou diabéticos

Impacto da mudança comportamental na situação clínica, aptidão física e saúde mental

O Centro Hospitalar de Leiria e o Politécnico de Leiria iniciam este mês de janeiro um estudo denominado “Efeito da implementação de consulta de prescrição de exercício e mudança comportamental na saúde e qualidade de vida em doentes hipertensos e/ou diabéticos”, que deverá terminar em dezembro de 2023. Este estudo interventivo e longitudinal, sob a alçada do Centro de Investigação do CHL, integrará 123 participantes com o objetivo de avaliar os efeitos do exercício físico e da mudança comportamental na situação clínica, aptidão física e saúde mental.
 
Cláudia Caseiro Antunes, interna de formação especializada em Medicina Interna no CHL, e Ricardo Rebelo-Gonçalves, docente na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Politécnico de Leiria, são os investigadores principais do estudo. Adélia Miragaia, assistente hospitalar graduada de Medicina Interna no CHL, Roberta Frontini e Rogério Salvador, docentes no Politécnico de Leiria, são os co-investigadores deste projeto.
 
«A criação duma consulta de prescrição de exercício físico sempre foi um dos meus objetivos, mesmo antes de ingressar neste internato. É irrefutável a importância desta intervenção na saúde dos nossos doentes, contudo, a sua aplicabilidade sempre foi o principal obstáculo. A parceria com os colegas do Politécnico de Leiria veio colmatar esta lacuna e acredito que temos um núcleo de pessoas, conhecimento e formação capaz de alcançar bons resultados na melhoria da saúde da nossa população», destaca Cláudia Caseiro Antunes. «A área do exercício físico sempre fez parte do meu leque de interesses dentro da medicina e na qual tenho investido boa parte da minha formação. Enquanto médica interna de formação especializada numa área como a Medicina Interna do CHL, que se caracteriza pela aquisição privilegiada de competências na abordagem do doente como um todo, acredito que, com a dedicação e trabalho que temos investido, conseguiremos criar algo que enriquecerá a medicina.»
 
Os participantes voluntários serão recrutados para este estudo nas consultas de diabetes e de hipertensão arterial no Hospital de Santo André (HSA), devendo ter mais de 18 anos e podem ser de ambos os sexos, clinicamente aptos e estáveis. Os critérios de exclusão passam por situações identificadas que impeçam de alguma forma a execução do programa de exercício. 
 
Os participantes serão divididos em três grupos de acordo com a motivação para realizar exercício: grupo de controlo (não fazer exercício); grupo home-based (fazer exercício em casa de forma autónoma) e grupo center-based (fazer exercício com acompanhamento presencial). Os participantes do grupo de controlo receberão as recomendações da Organização Mundial de Saúde para a atividade física e comportamento sedentário, e serão incentivados a adotar um estilo de vida saudável, mantendo as consultas e acompanhamento. Quanto aos participantes dos restantes dois grupos será prescrito um plano de exercício específico e personalizado, de acordo com as necessidades identificadas.
 
O projeto prevê que os participantes realizem, em primeiro lugar, uma avaliação clínica, em contexto de consulta médica de acompanhamento hospitalar, e serão então encaminhados para uma consulta de mudança comportamental com um psicólogo. Por fim, serão orientados para a consulta de prescrição do exercício com um fisiologista do exercício.
 
O estudo decorre nas instalações do HSA e os programas de exercícios serão supervisionados clinicamente pela equipa médica definida do Serviço de Medicina Interna. Os participantes realizarão o seu plano de exercício físico entre dois a três dias por semana, não consecutivos, durante os dois anos do estudo, sob a supervisão de fisiologistas do exercício de modo remoto, com análise dos registos de exercício na lógica de home-based exercise e acompanhamento telefónico a cada quatro semanas, e/ou de modo direto nas sessões presenciais, em contexto hospitalar.
 
A periodização dos planos de exercício, a progressão no volume e intensidade estarão dependentes da capacidade, evolução na perceção de esforço e quadro clínico de cada participante. O treino passa pela combinação de exercícios aeróbicos e exercícios de força.
 
«A inclusão da atividade física e do exercício nas estratégias clínicas para a prevenção, controlo e tratamento de doenças crónicas não transmissíveis como a hipertensão arterial e a diabetes mellitus, realça a necessidade de adotar uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais de saúde e profissionais do exercício físico. A coabitação destas diferentes áreas do conhecimento centrada no doente e nas suas necessidades individuais permitirá aumentar presumivelmente a adesão, eficácia e segurança associadas a um programa de intervenção, e que, em última análise, se traduzirá numa melhoria da qualidade de vida dos participantes», explica Ricardo Gonçalves.  
 
O docente e investigador do projeto salienta ainda que «este projeto reforça o trabalho no âmbito comunitário, e pretende ter um impacto relevante na integração e reforço da promoção da atividade física nos cuidados de saúde no Sistema Nacional de Saúde. Esta é mais uma oportunidade para a formação de especialistas com competências para integrar as tendências multidisciplinares emergentes, especificamente ao nível da avaliação, prescrição e monitorização do exercício clínico, sendo ainda complementado com uma componente de motivação e alteração comportamental.»
 
A diretora do Serviço de Medicina Interna do CHL, Maria de Jesus Banza, defende que «a investigação clínica é uma atividade fundamental para a inovação em Saúde. A investigação associada à prática clínica tem como objetivo melhorar o conhecimento e desenvolver novas metodologias para melhorar os cuidados prestados aos doentes. Neste caso importa implementar métodos com a finalidade de melhorar a qualidade de vida dos mesmos. Esta consulta de prescrição de exercício físico é inovadora em meio hospitalar, e assim o Serviço de Medicina Interna do CHL é pioneiro nesta área.»
 

21 de janeiro de 2022.