Semana Europeia da Urologia 2021

Incontinência urinária – um problema que grita em silêncio
 
Ainda hoje existem mulheres que pensam ser normal a perda de urina a partir de certa idade.  Outras gostariam de obter ajuda, mas têm vergonha de expor a situação ao seu médico. Muitas destas mulheres com incontinência urinária (IU) sofrem porém em silêncio, pois para além do prejuízo sobre a sua qualidade de vida, impacto psicológico e perda de confiança, sujeitam-se também a um maior risco de danos físicos, como lesões na pele e infecções urinárias frequentes.
 
A IU é, de facto, mais frequente nas mulheres, devido às suas características anatómicas e hormonais, bem como às alterações decorrentes das gravidezes, partos e cirurgias ginecológicas. Pode assim atingir até 40% das mulheres. Não obstante, também pode ocorrer nos homens, frequentemente associada a doenças prostáticas ou na sequência de cirurgias pélvicas.
 
O tratamento depende do tipo de IU, tendo por isso que ser personalizado - cada caso é diferente do outro. Genericamente falando: 
1) na IU de esforço, que é aquela que ocorre quando a pessoa faz algum tipo de esforço físico (ex.: tossir, espirrar, levantar pesos, levantar da cadeira), o tratamento pode consistir na fisioterapia dos músculos pélvicos, para recuperar a sua força e a sustentação da bexiga e da uretra. No entanto, frequentemente os resultados são insuficientes, sendo necessária uma cirurgia, que hoje se faz por vias minimamente invasivas;
 2) na IU por imperiosidade, a perda de urina ocorre após uma vontade súbita e inadiável de urinar, não havendo tempo para chegar à casa de banho. Neste caso, há algumas medidas gerais que podem ser úteis, como fazer treino vesical, evitar a ingestão de café e comidas condimentadas, bem como deixar de fumar. Quando isso não é suficiente, é necessário instituir um tratamento com medicamentos que reduzem as contracções da bexiga, levando assim ao seu relaxamento. Isto vai permitir estar mais tempo sem ter vontade de urinar e/ou prolongar o intervalo de tempo entre o início do desejo de urinar e a micção. Nos casos mais graves, poderão ser necessários tratamentos mais complexos, como a injecção de toxina botulínica na bexiga ou a neuromodulação; 
3) na IU mista, há uma mistura de ambos os tipos anteriores, começando por tratar-se o componente que for mais grave ou incómodo. Outros tipos de incontinência têm um tratamento mais complexo, requerendo um estudo e orientação mais especializados.
 
Em suma: a incontinência urinária não deve ser ignorada. Existem hoje tratamentos eficazes e seguros que permitem, na maioria dos casos, melhorar significativamente os sintomas e restabelecer a qualidade de vida. Ganhe coragem e informe-se com o seu médico!
 
Artigo elaborado por:
Frederico Furriel
Médico Urologista no Serviço de Urologia do Centro Hospitalar de Leiria