Semana Europeia da Urologia

Disfunção Erétil e a Semana Europeia da Urologia

A iniciativa levada a cabo pela Associação Europeia de Urologia (EAU) procura despertar a curiosidade sobre o que a Urologia realmente é, de modo a iniciar discussões relevantes, compartilhar experiências e quebrar tabus. Neste ano dedicada à disfunção erétil, o Serviço de Urologia do Centro Hospitalar de Leiria junta-se ao movimento, à semelhança de anos anteriores, numa aproximação do corpo clínico ao utente.
 
Em Portugal, até 50% dos homens entre os 40 e os 70 anos apresentam algum grau de disfunção erétil, dos quais apenas 9% procuram tratamento. Encará-la como um tabu, para o próprio dentro da relação ou para o médico de família, torna-a um problema subdiagnosticado e não tratado. No entanto, atualmente existem várias opções terapêuticas disponíveis e eficazes.
 
A disfunção erétil caracteriza-se pela incapacidade persistente (durante pelo menos três meses) em obter ou manter uma ereção peniana, que permita um desempenho sexual satisfatório. A ereção é o resultado de um fenómeno neurovascular que ocorre num ambiente hormonal e psicológico favorável. Desta forma, é necessária a integridade anatómica e funcional de todos os sistemas intervenientes. Associa-se com frequência às doenças cardiovasculares, podendo precedê-las e funcionando como um verdadeiro marcador de risco e oportunidade de intervenção precoce.
 
Embora esta doença fosse anteriormente considerada como tendo causas primariamente psicológicas, sabe-se que resulta quase sempre de uma origem física, como uma doença crónica ou um efeito secundário de um tratamento em curso. Os principais fatores de risco são: obesidade, diabetes mellitus, dislipidémia, hipertensão arterial, tabagismo, sedentarismo, etilismo crónico, medicação (anti-hipertensores, antidepressivos, hormonoterapia no tratamento do cancro da próstata), doenças neurológicas (Parkinson, esclerose múltipla), distúrbios hormonais (testosterona, tiróide), a doença de Peyronie e traumatismos pélvicos.
 
O diagnóstico da disfunção erétil passa pela elaboração de uma história clínica e psicossexual detalhada, acompanhada por um exame físico e um estudo laboratorial e hormonal. Pode ser útil a realização de um eco doppler peniano, uma avaliação neurológica ou provas mais específicas que possam ajudar a detetar alguma anomalia nas estruturas penianas. Uma avaliação psicológica pode ser importante nalguns casos.
 
Na maioria dos casos, é possível tratar eficazmente a disfunção erétil, não ocorrendo, no entanto, a cura definitiva. Devem ser adotadas alterações do estilo de vida (promovendo hábitos saudáveis e exercício físico), controlo de doenças existentes e envolver a/o parceira/o na abordagem terapêutica, de modo a aumentar a adesão, satisfação e cumplicidade do casal no tratamento. 
 
Apesar do tratamento depender sempre da causa e da sua gravidade, a terapêutica farmacológica de primeira linha consiste em medicamentos orais que favorecem a irrigação peniana, com elevada taxa de sucesso. Encontram-se contraindicados em doentes que fazem nitratos ou com doença cardíaca grave e, por isto, a sua utilização depende sempre de uma avaliação e prescrição médicas. As terapêuticas de segunda linha são constituídas por aplicação de agentes vasodilatadores a nível uretral ou injeção cavernosa, o recurso a bombas de vácuo que favorecem a ereção ou tratamentos hormonais. A terapêutica de terceira linha é constituída pela implantação de próteses penianas, que resultam numa ereção artificial com rigidez que permite a penetração e o controlo da duração da relação sexual.
 
O aconselhamento psicológico e a terapia sexual são bons complementos de outras formas de tratamento da disfunção erétil, sobretudo quando existe stress, ansiedade ou depressão associados.
 
O reconhecimento do problema no seio do casal e a sua apresentação junto do médico assistente são os passos fundamentais. Este último encaminhará ao urologista as situações que carecem de uma intervenção mais especializada, de modo a obter o melhor resultado possível.

Ricardo Borges
Diretor do Serviço de Urologia do CHL