Dia Mundial do Doente

Dia Mundial do Doente - Conexão com o Outro 

Naquele que é o Dia Mundial do Doente (11 de fevereiro) quero escrever sobre conexão. Podia escrever sobre inúmeros assuntos, mas nada me faz mais sentido enquanto profissional de saúde, assistente social e paliativista, pois a minha missão é cuidar. Cuidar do doente, cuidar do seu cuidador, da sua família. Poderei cuidar se não me relacionar? 
 
Ah, mas não tenho tempo para isso… encaminharam-me o doente tarde demais… tenho tantos doentes… no meio do caos do serviço de urgência não há tempo nem espaço para isso… 
 
Talvez nos possamos relacionar com o tempo não como algo que vamos controlar, mas sim fazendo parte dele. Parece-me que quando nos colocamos a favor do tempo, parte dele não trabalha contra nós. Nesse momento temos a possibilidade de nos conectar com o doente numa partilha do tempo em que ele está. Essa partilha permite-nos aproximar dele. Aproximamo-nos através do olhar, da capacidade de ouvir, do sorriso, do toque, porque nós somos o espaço que o doente precisa, o espaço de conexão.  
 
É verdade que nalgum momento o nosso horário terminou e vamos embora, vamos para casa, mas quantas vezes as dificuldades dos nossos doentes vêm connosco? Nem sempre é possível não levar connosco, até porque só não se envolve quem não tem coragem de se encontrar com o sofrimento do outro. Isso define a nossa essência. A nossa essência é algo que nos transforma em alimento e nós nutrimos quem nos rodeia com a nossa essência. E o que é que nutre o outro? É o ódio? Não, é o amor, a compaixão, a compreensão, a dedicação. Então, a nossa essência é a nossa forma de demonstrar amor. Que consigamos reconhecer a dedicação daqueles que nos rodeiam, reconhecer a dificuldade do doente em manter a calma, o seu medo em relação ao futuro, a sua luta, respeitar a sua dor, a sua coragem e a sua força. Que possamos ser fonte de admiração pela honra de partilhar estes momentos com os nossos doentes e suas famílias. 
 
E, por mais que às vezes tenhamos à nossa frente uma rua muito comprida e que nos pareça terrivelmente comprida e que nunca seremos capazes de chegar ao fim, acredito que passo a passo, sem perder o fôlego lá chegaremos. Mas, para isso, precisamos de aprender que não é só o conhecimento que nos leva até lá, mas sim a forma como caminhamos dentro desse conhecimento. 
 
Que cada um consiga procurar dentro de cada um dos seus dias, nesta experiência tão breve, que é a vida, dentro de cada uma das suas relações, o que lhe faz bem, o que lhe faz ser melhor, o que lhe faz ser próprio. E, não nos esqueçamos que “caranguejo só é peixe na enchente da maré” e em algum momento nós vamos ser o peixe e alguém vai estar a conversar sobre nós, alguém vai conversar com a nossa família. Na enchente da maré que sejamos fortes e que se cruzem connosco os que se conseguem conectar com o outro.   

 
Feliz Dia do Doente a todos os doentes e a todos os que cuidam. 


Artigo elaborado por:
Adriana Azevedo
Técnica Superior de Serviço Social, Serviço de Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar de Leiria
 
 

A DOR

A DOR

A dor tem sido definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) como "uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante à associada, a danos reais ou potenciais nos tecidos".
 
A dor pode ser classificada em dor aguda e dor crónica. A dor aguda pode surgir em vários contextos clínicos, sendo tipicamente protetiva e benéfica para o indivíduo, servindo frequentemente como sinal de alarme (ex. queimadura). 
 
A dor crónica, por sua vez, é uma dor persistente ou recorrente durante pelo menos 3-6 meses, que muitas vezes persiste para além da cura da lesão que lhe deu origem, ou que existe sem lesão aparente.
 
Estima-se que a prevalência da dor crónica em Portugal seja superior a 30%, afetando em média uma em cada três pessoas, com elevados custos diretos e indiretos.

Apesar deste panorama desfavorável, importa realçar que, atualmente, existe tratamento adequado para qualquer tipo de dor crónica, incluindo a dor oncológica e a dor não oncológica (ex. dor músculo-esquelética).
 
Grande parte dos quadros clínicos de dor serão adequadamente tratados ao nível dos cuidados de saúde primários, junto do seu médico assistente.
 
Em casos revestidos de maior complexidade ou em casos de renitência ao tratamento realizado, o doente com dor moderada a severa é referenciado às Unidades de Dor Crónica, ao nível hospitalar. 
 
Neste contexto, o Centro Hospitalar de Leiria dispõe de Unidade de Dor Crónica, multidisciplinar, orientada para o tratamento de todos os tipos de dor, incluindo a Dor Nociceptiva, Neuropática ou mista.
 
A Unidade de Dor Crónica do CHL é composta por uma vasta equipa constituída por médicos anestesistas, fisiatra, reumatologista, psiquiatra, psicólogo, equipa de enfermagem e uma assistente operacional. 
 
A UniDOR do CHL apresenta nas suas valências a consulta externa de Anestesiologia - Dor e também a consultadoria de diversas especialidades, incluindo as consultas de Reumatologia-Dor, Fisiatria-Dor, Psiquiatria-Dor e Psicologia-Dor. Dentro da abordagem terapêutica do doente com dor crónica, na UniDOR são realizados diversos tipos de tratamento, incluindo procedimentos minimamente invasivos guiados por ecografia, procedimentos do neuroeixo (coluna), mesoterapia, acupunctura e a musicoterapia.
 
Dentro da panóplia de tipos de dor tratados na UniDOR, damos o exemplo da dor neuropática, condição clínica que cursa com sintomas como formigueiro, ardor, sensação de queimadura, choques e picadas. Este tipo de dor, desconhecida da maior parte dos portugueses, resulta de uma disfunção do sistema nervoso somatossensorial, podendo ser de origem central (ex. pós-AVC) ou periférica/localizada quando decorre de lesões nos nervos periféricos (ex. neuropatias compressivas, pós-traumáticas ou pós-cirúrgicas).
 
Na Unidade de Dor Crónica do CHL são vários os procedimentos terapêuticos realizados, incluindo a administração endovenosa de fármacos, bloqueios e procedimentos ecoguiados peri-nervo e a aplicação de adesivos de capsaícina, para alívio dos sintomas de dor neuropática, com o objetivo máximo de melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade dos nossos doentes.


Artigo elaborado por:
Simão Serrano 
Médico Fisiatra – membro da equipa multidisciplinar da Unidade de Dor Crónica do Centro Hospitalar de Leiria