Dia Mundial do Coração

No dia 29 de setembro assinala-se o Dia Mundial do Coração, uma iniciativa da Federação Mundial do Coração (World Heart Federation), que decorre desde 2000. Esta data pretende consciencializar a população para a necessidade urgente de se cuidar mais e melhor da saúde do coração, e de serem garantidos os medicamentos e tratamentos adequados aos doentes cardíacos. O mote deste ano é “Usa o coração para bater”, e pretende alertar para a importância do controlo dos fatores de risco cardiovasculares, associados à adoção de um estilo de vida saudável e ativo. 
 
As doenças cardiovasculares são as que mais matam em todo o mundo, estimando-se que tirem a vida a cerca de 18 milhões de pessoas todos os anos, e representem 31% das mortes à escala global.  No entanto, é possível reduzir o risco de doença cardiovascular alterando alguns hábitos simples do dia-a-dia. Seguir uma alimentação equilibrada, praticar exercício físico regularmente, não fumar, e ingerir álcool com moderação são os quatro fatores basilares para ter um coração saudável!
 

 

Prevenção e tratamento da morte súbita: um grande desafio à moderna

Mas não morremos todos subitamente? A morte pode ser tratada?

Todos morremos porque num determinado momento todas as funções vitais se apagam, mas nem todas as mortes podem ser caracterizadas como de mortes súbitas.
 
Esta definição aplica-se a todos os que morrem de forma abrupta, sem sintomas prévios, com perda das funções vitais em minutos ou horas. Surge muitas vezes em pessoas aparentemente saudáveis, designadamente em jovens.
 
A situação mais comum e mais conhecida é a morte que ocorre em desportistas, amadores ou de alta competição, alguns dos quais gerando algum mediatismo, como foi o caso Fehér.
 
Excetuando as situações traumáticas ou violentas, como sejam os acidentes ou agressões com armas, a grande maioria dos casos de morte súbita são de causa cardíaca. Ou porque já há doença cardíaca prévia conhecida, como sejam o enfarte do miocárdio, ou as doenças do ritmo cardíaco ou, o que habitualmente acontece nos jovens, a doença cardíaca existe, mas é totalmente desconhecida. 
 
O que habitualmente acontece é a presença de alterações estruturais do músculo cardíaco, que não alterando a sua função não provocam sintomas. É por isto que alguns são atletas de alta competição, com elevadas cargas físicas, sem qualquer queixa ou debilidade.
 
Mas isto não se deteta? Como é possível isto acontecer em atletas profissionais, muitos praticando em clubes com excelentes departamentos médicos?
 
De facto, se em alguns casos há sinais que levam ao despiste dessas doenças e levam à realização de exames de diagnóstico, em muitos nada há que as faça prever e passam completamente despercebidas. 
 
A realização de um eletrocardiograma e a procura cuidada de antecedentes pessoais e familiares, é o mínimo que se deve exigir a quem vai iniciar prática desportiva regular, assim como uma reavaliação periódica a quem a vai manter.
 
Bem diferente é a situação do doente cardíaco já conhecido. Dependendo da situação clínica subjacente, o risco de morte súbita pode ser estimado através de características várias, sendo da competência do cardiologista determinar esse risco e agir de acordo com ele.
 
A morte súbita de causa cardíaca é provocada por um determinado tipo de arritmia, chamada fibrilação ventricular, durante a qual o coração trabalha de uma forma caótica e desse modo perde eficácia e leva à morte. A interrupção deste processo só é possível através do uso de um desfibrilhador e o seu uso deve ocorrer nos 2 a 5 minutos imediatos. O desfibrilhador não é mais do que um dispositivo que emite um choque elétrico, indispensável para se conseguir restaurar um ritmo cardíaco eficaz.
 
Foi assim que a tecnologia levou ao desenvolvimento dos chamados desfibrilhadores implantados, permitindo que doentes de alto risco para aquela ocorrência possam beneficiar da implantação daqueles dispositivos e desse modo levar a que, em muitos doentes que inevitavelmente iriam morrer, a morte seja evitada.
 
A implantação de desfibrilhadores está indicada em doentes cujas características clínicas indicam que a qualquer momento aquele paciente pode morrer subitamente, bem como naqueles doentes que já sofreram um episódio de arritmia e foram recuperados. Felizmente o número de doentes nesta categoria é cada vez maior essencialmente graças a dois factos: por um lado, o sistema de emergência está cada vez mais preparado para dar resposta adequada a estes casos; em segundo, devido ao facto de ser cada vez maior o número de portugueses capazes de dar início a manobras de ressuscitação cardiopulmonar, intervindo ativamente na recuperação daquelas vítimas.
 
Um cardiodesfibrilador implantado (vulgarmente designado por CDI) é um dispositivo com aspeto semelhante a um vulgar pace-maker, mas construído com base em tecnologia de elevada complexidade e por esse motivo muito caro. Os custos são uma óbvia limitação à sua disseminação, e por esse motivo cada implantação deve ser ponderada de modo a não desperdiçarmos recursos. 
 
Ser recuperado de um episódio de morte súbita é um direito a que todos devemos ter acesso, e para sua concretização cada português tem o dever cívico de contribuir, em especial aqueles que, pela posição que ocupam na sociedade, mais suscetíveis são de presenciar situações de morte súbita. Para além dos profissionais de saúde, os profissionais de segurança, os agentes de ensino e todos quantos trabalham próximo de doentes de risco elevado, devem ser treinados e munidos das ferramentas necessárias a dar resposta adequada às vítimas.
 
Para o bem de todos é essencial o contributo de todos.

Artigo elaborado por:
João Morais, Diretor do Serviço de Cardiologia do CHL
 

Insuficiência Cardíaca

“Doutor, cada vez me canso mais, tenho noites em que tenho de me levantar com dificuldade em respirar e nos últimos dias os tornozelos começaram a inchar”
 
Estas são as queixas que levam muitos doentes a procurar ajuda junto do seu médico, e que de uma forma simples traduzem aquilo que designamos por insuficiência cardíaca (IC). O coração, por razões várias, torna-se incapaz de cumprir a sua missão de fornecer oxigénio aos órgãos vitais e daí surgirem os sintomas referidos.
 
A insuficiência cardíaca ocupa uma percentagem muito elevada dos doentes que recorrem aos serviços de urgência e, consequentemente, são inúmeros os internamentos que anualmente se verificam devido a esta situação. A IC é responsável por um elevado número de mortes, matando mais doentes que o enfarte do miocárdio e até mais do que algumas formas de cancro. Nos doentes internados por insuficiência cardíaca, um em cada oito acaba por falecer durante esse internamento, e dos que sobrevivem muitos irão falecer nos 12 meses seguintes.
 
Um problema comum na abordagem desta doença reside na falta de atenção que o próprio doente dá às suas queixas, atribuindo-as à idade e ao envelhecimento, e subvalorizando-as. São muitos os doentes que sofrem desta patologia mas não estão tratados porque não valorizaram o que sentiram e não procuraram auxílio.
 
A primeira ajuda a procurar deve ser, como sempre, o seu médico de família, a quem compete uma primeira abordagem de diagnóstico e a instituição de uma terapêutica que alivie os sintomas com que o doente se apresenta. A abordagem inicial é simples: com base em exames simples como o eletrocardiograma e o ecocardiograma, o médico de família vai confirmar que o doente se encontra verdadeiramente doente e vai aproximar-se de um diagnóstico.
 
Muitos destes doentes vão necessitar apenas de medicamentos, mas outros vão requerer algumas técnicas como o cateterismo cardíaco, a implantação de dispositivos do tipo pace-maker ou desfibrilhadores, a angioplastia ou cirurgia coronária, a reparação ou substituição de válvulas, que são alguns dos procedimentos que a medicina moderna tem a oferecer a estes doentes.

O primeiro passo para um tratamento e um resultado eficaz da insuficiência cardíaca (IC), depende do próprio doente e dos seus familiares. Procurar ajuda quando surgem os primeiros sintomas; seguir escrupulosamente as recomendações da equipa médica; tomar os medicamentos de acordo com a prescrição; alimentar-se corretamente e perder peso se for necessário; abandonar o consumo de álcool; deixar de fumar; fazer algum exercício de acordo com a recomendação do seu médico; são o contributo que o doente tem de dar a si próprio.
 
Apesar de todos os esforços e progressos da medicina, para alguns doentes a última solução é a transplantação cardíaca. Uma cirurgia que ainda a todos impressiona, mas que é praticada em Portugal por equipas muito treinadas e com resultados iguais aos melhores. Quando dela necessitamos não hesitamos em enviar estes doentes para os centros de referência que em Portugal praticam esta técnica, com a certeza que estamos a proporcionar aos nossos doentes o melhor tratamento.
 
A pandemia que vivemos e que nos surpreendeu a todos, veio colocar novos desafios e ao mesmo tempo novos perigos aos doentes e em especial aos doentes com insuficiência cardíaca. Os doentes com IC são indiscutivelmente doentes de alto risco devido à fragilidade e vulnerabilidade que apresentam. Se forem infetados pelo novo coronavírus, o risco de complicações é assustador. O uso de máscara em qualquer local, mesmo na rua uma vez que se vai cruzar com outras pessoas, a higienização das mãos e evitar qualquer aglomerado de pessoas, é o mínimo que se pode fazer para reduzir esse risco.
 
Artigo elaborado por:
João Morais, Diretor do Serviço de Cardiologia do CHL