Dia Mundial das Hepatites

No dia 28 de julho celebra-se o Dia Mundial Contra as Hepatites, que pretende informar a população sobre a infeção, sublinhar a prevalência da doença a nível mundial, e sensibilizar para a necessidade de investimento na prevenção e consciencialização da doença.
A hepatite é uma inflamação do fígado, vulgarmente provocada por uma infeção viral. Esta inflamação pode desaparecer espontaneamente ou progredir para fibrose, cirrose ou cancro do fígado. A hepatite pode resultar da infeção por um vírus, sendo esta a causa mais comum da doença, mas também pode surgir por substâncias tóxicas (álcool, alguns medicamentos, entre outros) e por doenças autoimunes.

 

Hepatites

O fígado é um dos órgãos mais complexos do corpo humano. As suas principais funções são a síntese molecular, a eliminação de tóxicos e a manutenção do equilíbrio no organismo.
 
Desde a Grécia Antiga que se reconhece a este órgão uma capacidade singular: a de regeneração. Após uma agressão, o fígado pode, efetivamente, desenvolver mecanismos de compensação, porém, esta capacidade é finita. Quando a agressão é suficientemente grave ou continuada no tempo, o fígado perde as suas capacidades. Ao contrário de outros órgãos, como o rim, não existe uma máquina que permita substituir o fígado.
 
“Hepatite” é um termo genérico que designa inflamação do fígado. Existem múltiplas causas de hepatite, algumas delas raras. As mais comuns são: viral, tóxica, alcoólica, autoimune, e associada a fígado gordo. A inflamação do fígado pode ser aguda ou crónica e pode evoluir para três cenários: desaparecer espontaneamente, progredir para falência aguda, ou manter-se no tempo, dando origem a cicatrizes permanentes no fígado (cirrose hepática). 
As hepatites virais são doenças infeciosas que afetam mundialmente mais de 300 milhões de pessoas. As hepatites A e E são agudas e geralmente causadas pela ingestão de alimentos ou água contaminados. As infeções B e C transmitem-se pelo contacto com fluidos infetados (relações sexuais desprotegidas, partilha de material cortante, transfusões sanguíneas, parto). A fase aguda da hepatite pode ser assintomática ou semelhante a uma síndrome gripal. Posteriormente, um em cada 20 doentes com hepatite B, e seis a oito em cada 10 doentes com hepatite C, não consegue eliminar a infeção espontaneamente e progride para infeção crónica. O tratamento destas infeções faz-se recorrendo a medicamentos antivirais. No entanto, na presença de cirrose hepática, o tratamento da infeção não reverte totalmente as lesões hepáticas.
 
A hepatite tóxica associa-se à ingestão de medicação, suplementos não sujeitos a prescrição médica ou substâncias alimentares (cogumelos selvagens); o abuso crónico de álcool, mesmo que sem episódios de embriaguez, pode resultar em hepatite aguda alcoólica; a hepatite autoimune é uma patologia autoimune, mais frequente em mulheres, na qual o sistema imunitário reage contra o próprio fígado; o fígado gordo não alcoólico resulta da acumulação excessiva de gordura no fígado, é mais comum nos países ocidentais e associa-se à obesidade.   
 
O diagnóstico de hepatite é, em muitos casos, feito em indivíduos assintomáticos, em análises “de rotina”. Quando existem, os sintomas são: fadiga, dor abdominal vaga, náuseas ou icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos). 
 
Algumas hepatites não têm tratamento específico. Os elementos agressores (álcool, medicação) devem ser suspensos. A evolução é muito variável: desde os casos assintomáticos até aos casos de falência hepática com necessidade de transplante. A importância das hepatites reside, além de tudo, na sua progressão para cirrose hepática. Para prevenir esta evolução, a ingestão de álcool deve ser regrada, a medicação deve ser tomada com prescrição e as relações sexuais protegidas. 
 
Uma última palavra para as hepatites virais: a sua erradicação é possível, mas o objetivo de eliminação até 2030 exige investimento continuado de todos na prevenção e tratamento. 



Carina Leal

Interna de Formação de Gastrenterologia

Hepatite C

A Hepatite C é transmitida através do contacto com sangue infetado. Geralmente resulta da prática de injeções inseguras, esterilização inadequada de equipamentos e de produtos sanguíneos não rastreados. Também pode ocorrer infeção através da prática sexual desprotegida.

A melhor forma de prevenir o contágio da Hepatite C é evitar a partilha de agulhas e de objetos pessoais como, escovas de dentes, lâminas de barbear, pinças, corta-unhas, entre outros. Também se deve evitar fazer tatuagens ou piercings em estúdios não licenciados ou que não respeitem as normas de higiene e esterilização de equipamentos.

Atualmente não existe vacinação contra a Hepatite C, no entanto existem tratamentos que podem curar esta infeção.

Hepatites Virais e Fígado Gordo – Sucessos e Desafios do Século XXI

Hepatites Virais e Fígado Gordo – Sucessos e Desafios do Século XXI 

No dia 28 de julho assinalou-se o Dia Mundial das Hepatites, uma data dedicada a sensibilizar a população para esta doença, focando a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.
 
O termo “hepatite” designa a presença de inflamação no fígado, podendo ser causada por vírus, fármacos, tóxicos, fenómenos de autoimunidade ou pela deposição anómala de gordura no fígado associada ao consumo excessivo de álcool e/ou de gordura. A inflamação do fígado geralmente é silenciosa e pode progredir ao longo dos anos, com a formação de cicatrizes no fígado que culminam no desenvolvimento de cirrose hepática. A cirrose associa-se ao risco de neoplasias do fígado e de alterações das funções hepáticas, essenciais à vida e não substituíveis por nenhum equipamento médico. 
 
Os vírus são uma importante etiologia de hepatite, sendo a Hepatite B e C as principais causas de hepatite viral crónica. A sua transmissão pode ocorrer através da partilha de seringas ou material cortante, por relações sexuais desprotegidas ou no parto. Na última década, assistimos a incríveis avanços no seu controlo. Os novos tratamentos da Hepatite C crónica, com taxas de cura a rondar os 100%, revolucionaram o panorama desta doença, existindo a possibilidade da sua erradicação na próxima década. Quanto à Hepatite B, não existe atualmente uma terapêutica curativa, contudo, os tratamentos antivirais permitem a supressão prolongada do vírus e a minimização das complicações.
 
Num cenário em que o impacto das hepatites virais se prevê cada vez menor, sobretudo em países desenvolvidos, torna-se imperativo abordar uma causa crescente de inflamação do fígado: o fígado gordo, considerado por muitos como uma epidemia do século XXI, a par da obesidade.
 
Nas últimas décadas, o fígado gordo emergiu como a primeira causa de doença hepática crónica no mundo e prevê-se que se torne a principal indicação para transplante hepático. Estima-se que um quarto da população tenha fígado gordo, sendo esta proporção maior em indivíduos obesos e diabéticos. O risco de progressão para cirrose hepática prende-se com a presença de inflamação no fígado. Não existem, até à data, medicamentos com bons resultados no controlo do fígado gordo. No entanto, a progressão da doença pode ser evitada com medidas de estilo de vida, como perda de peso, alimentação cuidada, pobre em gorduras saturadas, redução do consumo de álcool e exercício físico. Estas medidas têm um impacto fulcral não só na redução da inflamação do fígado, como no controlo do risco de eventos cardiovasculares, incluindo enfartes do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais.
 
Assim, para além das medidas de contenção da transmissão das hepatites virais, é fundamental a promoção de um estilo de vida saudável, reduzindo o risco de inflamação associada ao fígado gordo. Sendo a hepatite uma situação frequentemente silenciosa, torna-se essencial a realização de análises sanguíneas, sobretudo em indivíduos com comportamentos de risco ou com patologias do foro cardiovascular.


Artigo elaborado por:
Maria Azevedo Silva
Interna da Formação Especializada de Gastrenterologia no Centro Hospitalar de Leiria
(julho de 2022)