Dia Mundial da Incontinência Urinária

O que deve saber sobre incontinência urinária

A incontinência urinária (IU) é a perda involuntária de urina e ocorre em 15,1% da população portuguesa, afetando 21,4% das mulheres e 7,6% dos homens.
 
Sendo a incontinência urinária tão prevalente, transversal, estigmatizante e impactante para a qualidade de vida, o doente deve saber: 
Quando começou e qual o tempo de duração;
Quais os fatores precipitantes (mudanças de posição, esforços físicos ou vontade incontrolável de urinar);  
Quais os fatores agravantes (período noturno, relação sexual, percurso para a casa de banho);
Qual a quantidade de urina que perde (gotas, jatos ou todo o conteúdo urinário);
Qual a proteção necessária (penso diário, penso de incontinência, fralda, roupa suplente);
Se há dificuldades no esvaziamento da bexiga (fluxo urinário lento/descontínuo ou sensação de esvaziamento incompleto);
Se há consequências no dia-a-dia (deixa de praticar exercício, evita os convívios sociofamiliares, sente-se ansioso).
 
A incontinência urinária de esforço (IUE) define-se pela perda acidental de urina que ocorre durante um esforço ou atividade física (caminhar, levantar um peso, saltar, tossir ou espirrar). Geralmente associa-se a uma diminuição da força dos músculos responsáveis pela continência, os músculos do pavimento pélvico.
 
A incontinência urinária de urgência (IUU) é a perda de urina associada a uma vontade súbita e repentina de urinar, na ausência de qualquer esforço. A IUU e a IUE são os tipos de incontinência mais frequentes e podem estar presentes em simultâneo (IU mista).
 
A autoanálise facilita também a identificação de outros tipos de incontinência menos frequentes, como a enurese noturna (durante o sono), a IU associada à relação sexual, a incontinência urinária funcional (associada a dificuldades na mobilidade e no acesso à casa de banho) ou a incontinência urinária associada à retenção urinária.
 
Esta caracterização é importante para a perceção do doente e pode permitir uma primeira abordagem terapêutica, contudo, o estudo das causas da incontinência urinária obriga a uma avaliação dirigida não só ao aparelho genito-urinário, mas também à exclusão de quadros com origens noutros sistemas. 
 
Relativamente ao tratamento, o doente deve saber que existem várias opções terapêuticas com sucesso, desde medidas não invasivas até ao tratamento cirúrgico, pelo que deve pedir ajuda ao seu médico assistente. 
 
O tratamento conservador inclui medidas dirigidas à mudança do estilo de vida e a reabilitação do pavimento pélvico (RPP), podendo ser complementado com tratamento farmacológico. 
 
A perda de peso na mulher com excesso de peso é uma das medidas gerais com maior evidência. O tratamento da obstipação também faz parte das recomendações. 
 
O programa de RPP deve ser dirigido por um médico fisiatra e inclui medidas comportamentais e várias técnicas terapêuticas, como o treino dos músculos do pavimento pélvico, o biofeedback, a eletroestimulação ou o uso de cones vaginais. O treino dos músculos do pavimento pélvico é um plano de exercícios que visa melhorar a força destes músculos, a sua endurance, a sua capacidade de relaxamento ou uma combinação destes objetivos. Deve ser supervisionado por um fisioterapeuta especializado, de forma a assegurar a sua realização correta. 
 
O treino muscular do pavimento pélvico é um dos tratamentos de primeira linha na IU, com máxima evidência no tratamento da IUE na mulher. No entanto, o doente deverá saber que a sua eficácia está dependente da adesão aos exercícios e da motivação para a sua manutenção a longo prazo. 



Artigo elaborado por:
Mafalda Bártolo
Responsável pela Consulta de Reabilitação do Pavimento Pélvico do Serviço de Medicina Física e Reabilitação
Diretora do Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Centro Hospitalar de Leiria
 

Reabilitação do pavimento pélvico na incontinência urinária

Há recomendações para a promoção global da saúde que podem contribuir para a melhoria das queixas urinárias, tais como o controlo do peso, a realização de atividade física regular e a manutenção de um trânsito intestinal eficaz. A perda de peso na mulher com excesso de peso é uma das medidas gerais com maior evidência. 
 
O programa de reabilitação do pavimento pélvico (RPP) deve ser dirigido por um médico fisiatra e inclui medidas comportamentais e várias técnicas terapêuticas, como o treino dos músculos do pavimento pélvico, o biofeedback, a eletroestimulação ou o uso de cones vaginais. A decisão terapêutica depende da avaliação clínica, onde se deve incluir o preenchimento de um calendário miccional e a aplicação de questionários de qualidade de vida (QV). O calendário (ver exemplo na imagem abaixo) vai permitir caracterizar a incontinência urinária (IU), melhorar a perceção do doente e serve de medida objetiva para avaliação dos resultados, assim como as escalas de QV.


           
 
O treino muscular do pavimento pélvico é um dos tratamentos de primeira linha na IU, com máxima evidência no tratamento da  incontinência urinária de esforço (IUE) na mulher. Existe também evidência do seu efeito na prevenção da IUE no pós-parto e na mulher peri-menopausa, devendo ser recomendada com evidência máxima no pré-parto, mesmo em mulheres continentes.

                             

 
O treino dos músculos do pavimento pélvico (MPP) é um conjunto de exercícios que visa melhorar a força destes músculos, a sua endurance, a sua capacidade de relaxamento ou uma combinação destes objetivos.

Conteúdos desenvolvidos por:
Mafalda Bártolo, Responsável pela Consulta de Reabilitação do Pavimento Pélvico do Serviço de Medicina Física e Reabilitação
Carina Martins, Fisioterapeuta Especializada

Reabilitação do pavimento pélvico na incontinência urinária - Exercícios

Exercícios de “Kegel”
Para a contração dos músculos do pavimento pélvico (MPP), também conhecidos por exercícios de “Kegel”, é fundamental uma avaliação por um fisioterapeuta especializado. Em primeiro lugar, para perceber se o doente necessita de aprender a contrair ou a relaxar estes músculos e, em segundo, para analisar se o faz de forma correta. Para o ajudar, pode sugerir-se que imagine a sua cintura pélvica imersa em água e que a sua vagina ou o seu pénis, e o seu ânus, são palhinhas a tentar aspirar a água (contração) e de seguida relaxar. É possível combinar este movimento com a respiração: inspirar e contrair; expirar e relaxar. No dia-a-dia, deve contrair os MPP imediatamente antes e durante os esforços. Não se deve interromper o fluxo da urina durante a micção.

                                             
 

1. Exercícios respiratórios
Na posição exemplificada na imagem abaixo (braços ao longo do tronco, pés e joelhos alinhados com as ancas, cintura pélvica na posição neutra e alongamento da coluna cervical): inspirar e expirar calmamente, colocando as mãos a nível das costelas inferiores; quando inspirar vai sentir um afastamento das costelas e quando expirar as costelas irão aproximar-se. Uma ampla excursão diafragmática promove um bom movimento do pavimento pélvico. Por outro lado, ao estar concentrado no padrão respiratório, irá obter um relaxamento global.


                                     
 
2. Exercícios de mobilização pélvica
Na posição que pode verificar na imagem que se segue (braços ao longo do tronco, pés e joelhos alinhados com as ancas e alongamento da coluna cervical): mobilizar a cintura pélvica, alternando entre “empinar o rabo” e “rabo entre as pernas”. Pode repetir várias vezes, em várias posições (deitado, sentado ou em pé).



 
3. Exercícios para contração do músculo transverso abdominal
O transverso abdominal funciona como um cinto à volta da nossa barriga com a função de estabilizar. É o músculo que sentimos quando colocamos as mãos abaixo do umbigo, entre as cristas iliacas. Para contrair este músculo pode-se imaginar que se está a apertar com dificuldade o botão ou cinto de umas calças de cintura descida. É um movimento muito suave, mas sente-se  a contração do músculo através da palpação. Este exercício pode ser feito deitado, sentado ou em pé.

                                                   
 
Apesar da eficácia do treino destes músculos, o doente deverá saber que a sua eficácia está dependente da adesão aos exercícios e da motivação para a sua manutenção a longo prazo.
 
Conteúdos desenvolvidos por:
Mafalda Bártolo, Responsável pela Consulta de Reabilitação do Pavimento Pélvico do Serviço de Medicina Física e Reabilitação
Carina Martins, Fisioterapeuta Especializada