A cada médico o seu galho

No texto Médicos da cabeça abordamos a diferença entre Neurologia e Psiquiatria: comparamos o sistema nervoso a um computador e vimos que a Neurologia trata de problemas de hardware, físicos do sistema nervoso, incluindo o cérebro; a Psiquiatria trata de problemas de software: emoções, sentimentos e pensamentos. Na rubrica deste mês vamos explorar um pouco mais a diferença entre essas disciplinas médicas e, para isso, vamos abordar duas doenças muito importantes e frequentes: depressão e demência.

Já tivemos oportunidade de falar sobre a depressão. Embora ainda haja muito a dizer, vimos brevemente que se trata de uma doença mental grave caracterizada por uma tristeza profunda, negra e melancólica, incapacidade para sentir prazer e falta de esperança no futuro. Uma vez que é uma “doença da mente”, isto é, afecta emoções, sentimentos e pensamentos, a depressão é uma doença que pertence à Psiquiatria. Os psiquiatras são, de facto, os profissionais de saúde mais indicados para tratarem da depressão: a doença será abordada de forma adequada, completa e minuciosa por um psiquiatra, que é um profissional altamente treinado e especializado para tratar de doenças mentais, entre elas a depressão.
 
Enquanto a depressão é melhor tratada pela Psiquiatria, a demência é melhor tratada pela Neurologia. Na demência, os problemas que afectam o funcionamento do cérebro e que causam falhas graves de memória e dificuldade nos movimentos (destacamos estes sintomas mas a demência é uma doença complexa e pode ter muitas apresentações diferentes) vêm de problemas com os circuitos do cérebro, que se degradam – se pensarmos no computador, é como se os fios e os processadores se deteriorassem. Por ser um problema “físico” do cérebro, a demência é uma doença que deve ser tratada por neurologistas. Tal como com os psiquiatras e a depressão, os neurologistas são altamente especializados em orientar o tratamento das demências.
 
Com frequência os sintomas de demência e de depressão podem acontecer na mesma pessoa ao mesmo tempo. Nestas situações poderão ser necessários um psiquiatra e um neurologista – por se dedicarem a problemas do órgão mais complexo que existe, o cérebro, esses profissionais conversam e trocam ideias constantemente, com o objectivo de maximizar os tratamentos dos seus doentes.
 
Fica uma última questão: afinal, que médico deve consultar? Um bom começo é sempre consultar o médico de família. Este acompanha os utentes ao longo de muitos anos e é a pessoa mais indicada para orientar para um neurologista ou um psiquiatra, ou até outros especialistas. Porém, no final, deve ficar esta mensagem: mais importante do que acertar no médico logo à primeira é pedir ajuda. É essencial! Depois disso, os médicos encaminhá-lo-ão para o galho certo.


Artigo elaborado por:
Daniel R. Machado
Interno de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Leiria
 
(Rubrica “Falemos de Saúde Mental”, publicada mensalmente no Diário de Leiria)


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